quinta-feira, 17 de março de 2011

ODE À DONA MARIÁ VALVERDE...

Nasci e vivi grande parte da minha vida ao lado dos meus avós maternos, Araújo e Mariá. A vida foi muito difícil e prazerosa no bairro do São Caetano, subúrbio de Salvador.

Meu avô sempre foi muito apegado a mim - talvez por ter sido o primeiro neto, não sei - aos filhos e a um rabo de saia (o cabra era fogo !). Seu Araújo sempre me passou a impressão de estar ali gozando a existência, mesmo com a responsabilidade de criar seus dezessete filhos.
Ao contrário do meu avô, minha vó é uma mulher muito conservadora – espelho de sua família – criada na roça, na cidade de Teofilândia, onde se cobria os espelhos, todos os objetos metálicos e não faziam refeições em dias de trovoada. Vovó era muito cobiçada pelos rapazes da cidade, era uma jovem belíssima, mas o véi Araujinho decidiu a parada (virado na peste) !
Mãe dedicada, dona Mariá, viveu para cuidar do meu avô, dos filhos, Tânia (minha mãe), Telma, Tércia, Tatiana, Antônio Araújo, Tamar, Tércio, Tenilda, Verônica, Joana Angélica, Telmara, Daniela e de mim, logo que meus pais se separaram, eu devia ter uns dois anos.
Vovó sempre foi uma companheira muito prendada, excelente dona de casa, costureira e cozinhava muito bem – tinha um bife com caldo, espetacular, que todos babavam – apesar de não ter sido muito inventiva na cozinha, legado de sua mãe, talvez. Lembro-me que, quando estava fazendo seus bifes cantarolava divinamente bem, enquanto eu esperava com o estômago colado às costas. Era muito importante aquele momento pra mim, apesar da fome, eu me deliciava com suas canções. Ela percebia que eu gostava, pois era o primeiro a sentar à mesa, e gostava que eu gostasse e caprichava. Na verdade - este é um sentimento meu - ela realizava seu sonho de ser cantora naquele momento, se apresentando para mim.
Infelizmente, a matriarca da nossa família não tem mais condições de me alimentar com seus bifes e canções que tanto me marcaram. Hoje, sou eu quem canta suas canções – quando tenho oportunidade – ou cito-as em minhas conversas, reverenciando-a como o fazia na hora do almoço... só não aprendi a fazer bifes.




Parabéns, Mariá Valverde, pelos seus 81 anos de vida, sou completamente apaixonado por você !
Muitíssimo obrigado minha vó.

Nenhum comentário:

Postar um comentário